sábado, 18 de setembro de 2010

Dia 13 - 18/09/2010

Aleluia! Finalmente um pouco de sossego (mas só um pouco porque a quantidade de leitura pra segunda é grande). Acabou a segunda semana com uma aula de marketing (case da Intel) e de BGIE (Business, Government and International Economy) onde o case hoje foi sobre a China.

Ontem, finalmente, pela primeira vez consegui tomar uma ou duas direito. Ficamos aqui no living group até tarde distribuindo o trabalho da próxima semana e esticamos pra Harvard Square, do outro lado do Rio. Tava precisando...

Mas vamos ao que interessa. Ontem interrompi o post quando ia começar a falar da Índia, então vamos começar por aí. O case abordou toda a trajetória econômica da Índia (que orbigatoriamente tem que envolver aspectos culturais também), desde a época de alinhamento com a União Soviética no período subsequente à independência até os dias atuais em que o país cresce a taxas expressivas, mas continua tendo problemas estruturais gravíssimos. Entre 1997 e 2007 a Índia cresceu a uma taxa média de 8,8%, uma enormidade. Até o fim dos anos 80, a esturutura econômica de lá era a de um estado controlado, em grande parte influenciado pela URSS. Mas a partir desta época, a conversão para uma economia de mercado fez da Índia uma "atração internacional" e atraiu signficativo investimento estrangeiro. Importante notar que esta mudança ocorreu porque a Índia foi obrigada a fazê-la em função da sua dependência de petróleo para que o país funcione. Com as duas crises do petróleo dos anos anteriores e a consequente elevaçãod o preço, a Índia começou a ficar sem grana pra bancar a sua energia e foi forçada a mudar sua estratégia. Algumas peculiaridades e curiosidades:

- Na Índia são falados 650 dialetos, existem 18 línguas ofíciais e, ao contrário da idéia que eu, particularmente, tinha, apenas 3% da população fala inglês. Apenas é bom lembrar que 3% de mais de um bilhão de pessoas é gente pra caramba...
- 40% da população analfabeta do mundo está na Índia, algo brutalmente contrastante com o alto nível de formação dos engenheiros que todo ano saem as pencas das universidades indianas;
- O sistema de castas ainda existe, e elas são 4: os Brahmin (religiosos), os Kshatria (guerreiros), os Vaishya (comerciantes) e os Sudra (camponeses). Existem ainda os "intocáveis", que estão no nível mais baixo da hierarquia e são bem diferentes daquele tal de intocável da novela da globo...

O sistema político é complexo com uma profusão de partidos que acabam tendo que governar através de coalisões. A diversidade étnica é enorme, e um dos problemas mais graves ainda enfrentados pelo país decorre da intolerância religiosa (apenas um parentese: se fosse possível calcular, qual seria o percentual das guerras e conflitos do mundo - atuais e do passado - que foram deflagrados por questões religiosas???? pra refletir e parar por aqui porque política e religião, só em mesa de boteco....). Segundo depoimento de alguns indianos (tem um no meu living group), a cada 100 km de estrada percorrida na Índia, TUDO muda, a língua, a fisionomia das pessoas, os costumes, a cultura, enfim, tudo mesmo. É como estar em países diferentes. Embora seja um país tremendamente exportador, 60% dessa exportação é oriunda do setor de serviços, principal TI e call-centers. Este elevado montante dos serviços na balança comercial traz preocupações e o país está tomando iniciativas para aumentar o nível de diversificação.

Apesar de todo o crescimento, a Índia continua, de acordo com estudo do Banco Mundial, um dos piores países do mundo para se fazer negócio (122o. no ranking entre 183 países). Pior que a Índia, só mesmo o Brasil, que é o 129o. Este ranking avalia uma série de fatores relacionados a segurança, burocracia, crédito, corrupção e assim por diante.

Antes das aulas de hoje, alguns comentários sobre a noite de ontem. Talvez pela proximidade do final de semana, todo mundo parecia mais relaxado. E talvez por isso, depois do trabalho, quase todos nós ficamos em volta da mesa, tomando vinho e cerveja e discutindo maneiras de ficar bilionários! O Gregg, que é o engenheiro da Boeing (que, a propósito, entre outras coisas foi o engenheiro-chefe da Boeing no projeto da estação espacial internacional), desenvolveu uma ótima teoria de complementariedade dos recursos disponíveis no nosso living group. Basicamente, temos a tecnologia (ele, engenheiro), o dinheiro (a presidente de banco do Vietnam), o empreendedorismo (eu), os canais de distribuição (o canadense da rede de varejo) e o venture capitalist (o japonês bilionário). Portanto, ficou fácil. Aí foi uma sucessão de idéias e de conversa interessantíssima jogada fora. O que me chamou a atenção foi a mudança de parâmetro. Tenho certeza que muitos de nós já se envolveu em várias discussões com amigos, principalmente na juventude e nos primeiros anos de faculdade, sobre encontrar formas de ficar milionário. Pois é, aqui os caras se reúnem pra encontrar formas de ficar BIlionário... eu, particularmente, gostei da mudança! :-)

Falando no japonês, que abriu capital da empresa na bolsa e amealhou 1 bilhão de USD, conforme contei antes, além do negócio de baseball é dono de um dos maiores marketplaces online do Japão, tem uma agência matrimonial online (sim, agência matrimonial, com incentivo do governo japonês, pra ajudar o povo a se encontrar e namorar, porque na atual tendência, a população do Japão vai encolher tremendamente nas próximas décadas porque tá todo mundo ficando velho e ninguém mais tem filho) e está envolvido numa negociação pra comprar um tal de buy.com aqui nos EUA e concorrer com ninguém menos do que a Amazon... o Japinha não é fraco!

Também vi funcionando ontem uma aplicação muito bacana no iphone, que não sei se funciona aí no Brasil, chamada Red Laser. Basicamente, consiste num software q transforma a camera do iphone num leitor de código de barra. Você aponta a camera pro código de barra do produto e ele faz a leitura. Até aí tudo bem, zero de novidade. Mas o legal é o que vem depois: a partir da leitura do código, o software identifica o produto, pelo gps do celular sabe onde você está, identifica lojas próximas de você que vendam aquele produto e traz o ranking dos preços para que você veja onde aquele produto está sendo vendido pelo menor preço. Achei, numa palavra, fantástico.

Mas vamos em frente senão esgoto a paciência de vocês com posts muito longos...

O dia hoje começou com o Quelch e o case da Intel, que discuti a estratégia da Intel na criação do "Intel Inside". Embora a maioria das pessoas pense que aquele selo que a maioria de nós viu nos seus computadores até algum tempo atrás tratava-se de uma campanha focada no consumidor, isso não era verdade. A estratégia do Intel inside foi totalmente focada nos CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO. Em outras palavras, os montadores e fabricantes de computadores, que eram, em última instância, os consumidores dos processadores. Mas pra isso, a Intel precisava fazer com que o cliente percebesse valor diferenciado no seu processador. Isto posto, ela criou uma forma de "descomoditizar" o chip e fazer com que o cliente final percebesse virtudes no processador da Intel, e a partir daí, valorizasse computadores com o tal selo. Como sempre, o case é longo e analisa detalhadamente esta trajetória. Ao final, além das lições aprendidas relacionadas ao marketing propriamente dito (criação de valor, percepção do consumidor, extensão e ampliação da marca, etc), Quelch chamou a atenção para a necessidade de prestar muita atenção em gerentes e diretores de marketing recém contratados que querem mostrar serviço, como que foi contratado pela Intel no início da década e resolveu tirar o Intel Inside do ar porque a campanha já estava rodando a tempo demais. Isso causou um grande prejuízo pra Intel, refletido no seu volume de vendas e lucratividade, e culminou com a demissão da figura. O velho problema de gente querendo mostrar serviço pra justificar o salário e, em decorrência, mais atrapalhando do que ajudando.

Finalmente, encerramos o dia com um case sobre a China, um fenômeno em termos de crescimento sob todos os aspectos, mas como a Índia, um país com elevada desigualdade e problemas estruturais sérios. Vários acertos e alguns erros depois, a China caminha a passos largos para superar os EUA no médio prazo.

Agora, de volta pros cases e mais tarde, jantar na casa do Paul Healy (professor de liderança) seguido de comemoração de aniversário de 3 AMPs. Amanhã, historical tour por Boston (provavelmente haverão fotos) e show do Blue Man Group (os azuizinhos que fazem a propaganda da TIM) pra a noite começar toda a rotina de novo (case, discussão, livro, aula, mais case, mais discussão, mais livro, mais aula...).

Um comentário:

Adriano Pereira da Silva disse...

1- fico imaginando o horario eleitoral gratuito (TV) na índia... se aqui já sofremos com o tiririca, imagina lá... 650 dialetos! 18 linguas!
deve ter muita oportunidade disfarçada nisto... é de se pensar...
2- cara, esse lance do red laser é muito louco. tem outra coisa cabeluda. me diga se já está funcionando aí o seguinte: vi uma reportagem que o google lançaria um celular em que o usuário, tira foto de uma frase, ou alguma coisa escrita, como uma placa de transito por exemplo, e imediatamente o aparelho faria a tradução para qualquer idioma desejado, é mole? acabaram-se os problemas de viagens internacionais para os mono.