quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dias 43 e 44 - Terça (19/10) e Quarta (20/10)

Então agora que estamos chegando próximos do final, todo mundo resolveu interagir socialmente... Hoje teve o bom e velho rotation dinner (tradição das quartas-feiras, hoje foi o dia de reunir o pessoal por nacionalidade - no caso dos brasileiros, ficamos juntos com chilenos, mexicanos, argentinos e peruanos). E, como se não bastasse, depois da também já boa e velha reunião tivemos fomos tomar uns "drinks" (drinks é o fim da rosca, me lembro do Fares e do Raul - amigos da época de mestrado - quando combinávamos de tomar uns drinks depois da aula) no linving room vizinho. Os caras convidaram, ficava indelicado recursar. Ou seja, 23:20 e só agora consegui sentar pra escrever. Mas hoje não fica sem post. Então, vamos lá.

Comecemos por ontem. Em ordem cronológica:

  • AULA 1 - Dinâmica competitiva, case da competição da NutraSweet contra a Holland Swettener Company pelo mercado de Aspartame. Um interessante caso que se concentrou na análise das escolhas estratégicas da Nutrasweet quando, em meados da década de 80, a patente do Aspartame que assegurava o monopólio nos países da Europa e no Canadá estava para expirar e a Holland Sweetener Company se preparava para entrar no mercado. A Nutrasweet gozava do privilégio no fornecimento de aspartame para a indústria de refrigerante (Coca e Pepsi), além de não ter concorrente no mercado de venda direta ao consumidor. As margens de lucro eram muito grandes e o céu era de brigadeiro. Com o fim da vigência da patente e a pública intenção da concorrência de entrar no mercado (lembrando que o mercado americano ainda continuaria protegido pela patente até o início da década de 90), a Nutrasweet tinha, concretamente, duas opções.
    • OPÇÃO 1: Entrar numa guerra de preços, rebaixando o preço da libra do produto de próximo de USD 60 para algo entre USD 18-25. Isso representaria para a Nutrasweet a venda de estimadas 1.300 toneladas ano, com um lucro aproximado de USD 20 MM./ Neste cenário, a Nutrasweet simplesmente asfixiaria o concorrente forçando-o a sair do mercado, pois a HSC não teria preço para competir e, portanto, tenderia a ir a falência;
    • OPÇÃO 2: Entrar num processo de competição nromal, onde a libra do aspartame caíria para próximo de USD 50. Neste cenário, a venda anual seria de cerca de 800 toneladas e o resultado seria de USD 56 MM. Entretanto, neste cenário o concorrente se estabeleceria, obtendo uma fatia de algo próximo de 500 toneladas, com lucro estimado de USD 28 MM.
    • Pois bem, aí vem a questão. O que você faria????? Guerra de preço para aniquilar o concorrente ou competição normal para maximizar o lucro?
    • Qual seria sua escolha????????????????
    • A escolha da Nutrasweet foi entrar numa feroz guerra de preços, ainda que à custa de destruir valor da companhia, de modo a assegurar que a concorrência fosse aniquilada enquanto ainda era pequena e sem força. A HSC ficou no mercado ao longo de 15 anos insistindo e perdendo dinheiro e finalmente interrompeu as suas atividades no setor no início da década de 90.
    • Interessante é que, à medida em que o curso de estratégia avança (e já estamos quaso no final dele), fica mais evidente que a base de tudo que estamos aprendendo aqui continua sendo o bom e velho Porter. Realmente, livro de cabeceira...
  • AULA 2 - Leadership and Corporate Accountability, onde o tema do dia foi a atuação da Shell na Nigéria. Confesso que as aulas do Healy as vezes me dão sono, como já comentei antes. Mas esta foi ótima. As questões centrais do case giraram em torno da responsabilidade das empresas atuando em locaisi conturbados e com potenciais danos à comunidade em que fazem negócios. Em especial na Nigéria, a situação descrita era bastante séria. Os campos de petróleo que foram sendo abertos deixaram como "herança" permanente para os pequenos agricultores, "escapamentos" de gás que vazavam 24 horas por dia e não eram explorados comercialmente porque o custo para seu aproveitamento não justificava a receita potencial. Ainda relevante para o caso é a situação política da Nigéria, que na época era conturbada. A Nigéria é um país com um enorme potencial mas com diversas etnias e uma grande dificuldade de acomodar todos os interesses. Governos militares ditatoriais se sucederam no poder, e opositores eram silenciados através de julgamentos sumários um tanto quanto contestados. Neste contexto, operava a Shell, amplamente combatida pela população, mas protegida pelo governo. O ponto alto da aula foi o depoimento de um Venezuelano que trabalho na estatal de Petróleo da Venezuela, que deu um panorama do que é o mundo real, que extrapola as discussões ético-filosóficas da sala de aula (que também são importantes). Ele disse mais ou menos o seguinte: "eu trabalho para a cia de petróleo da Venezuela. Portanto, eu trabalho pro Chaves. Eu sou contra o Chaves. Já apanhei da polícia na rua em protestos contra ele. Mas, como profissional e pai de família, eu tenho que estar lá e trabalhar todos os dias". Seu argumento era para colocar combustível numa discussão acerca de "onde está a linha que divide o que é certo ou errado?". Como desenhamos esta linha. Ele continuou: "por exemplo, aqui existem vários diretores de bancos. Seus bancos deixariam de emprestar dinheiro para a Shell porque ela não adotou as melhores práticas com as comunidades da Nigéria?". "Todo mundo aqui faz negócios com a China. O fato de que a China não respeita os direitos humanos e, ainda mais grave, está exterminando toda a população do Tibet, não deveriam representar motivos suficientes para traçar a linha e não fazer negócios com a China?". Questão extremamente complexa... O que vocês acham? Comentários a respeito?????
  •  AULA 3 - Business, Government and International Economy, onde o País do dia foi a Itália.Vietor abriu a aula com um filminho mostrando as diferenças entre a Itália e o resto da Europa, o qual provavelmente muitos de vocês já conhecem, mas que é engraçado. No mínimo, nós brasileiros vamos nos identificar com muitas coisas... Pra quem estiver com tempo, veja em http://www.youtube.com/watch?v=nQWNGLv8w74. Basicamente, as aulas de BGIE seguem sempre o mesmo padrão (e isso não é crítica, ao contrário, estamos ficando altamente treinados em analisar a economia de qualquer país e entender a sua evolução, o comportamento da sua economia, o que estão fazendo de "correto" (coloco entre aspas porque este correto é de acordo com convenções econômicas de melhores práticas, mas que nunca podem ser vistas como receita de bolo), quais os problemas que enfrentam e o que deveriam fazer para resolver os problemas que enfrentam no curto, médio e longo prazo. Algo de grande valor! No caso da Itália, a economia do país é caótica! Eles só entraram na União Européia porque as regras foram flexibilizadas - ou, talvez melhor dizendo, simplesmente ignoradas. Por exemplo, o débito do país em relação ao produto interno bruto era estupidamente acima do que previa a regra de acesso à União Européia (e continua sendo até hoje). Os sindicatos arrebentam a produtividade do país, fazendo com que este indicador retroceda (em oturas palavras, os trabalhadores cada vez são menos produtivos). E por aí vai. Destaque para o Luigi, italiano da Petronas, que foi o "cristo" da vez para o Vietor e encarou toda a gozação com extremo bom humor.
 Muito bem, e assim, após o piano e violão de ontem, encerramos o dia. Falando em piano e violão, o negócio promete pegar fogo é na sexta, vai ter a "noite do rock and roll" e pelo que tão falando, vai ter palco, instrumento plugado e tudo mais. A empolgação é tanta que o Tushman ontem na reunião semanal, pediu pros representantes transmitirem aos grupos o pedido de que não faltam à aula de sábado porque teremos convidado de fora dando depoimento e ficaria chato ter apenas metade do pessoal presente. Fim de curso é tudo igual mesmo, pode ser na UEPG, pode ser em Harvard.... hehehehehe

Hoje começamos o dia com o Vietor e o país da vez foi a Espanha. Outrora Oásis de prosperidade, país que mais cresceu e mais recebeu imigrantes atraídos pelas condições prósperas, transformou-se em protagonista durante a crise do ano passado representando uma das principais ameaças para a continuidade da Comunidade Européia, já que socorrer um país do tamanho da Grécia é fácil, mas evitar que um país do tamanho da Espanha quebre, aí já seria outra história. Pra resumir, sintetizo comentários do relatório do FMI emitido em maio deste ano: a economia da Espanha precisa de reformar amplas e de longo alcance. Os desafios são grandes: um mercado de trabalho disfuncional, bolha imobiliária em processo acelerado de deflação, alto endividamente externo, crescimento da produtividade anêmico, fraca competitividade e um setor bancário com bolsões de fraquezas. Ou seja, a situação não é simples. Na carona do case, discutimos as diferenças na produtividade do trabalho e, além disso, na quantidade de horas trabalhadas em vários países. Vocês sabiam que na França, o trabalhador médio tira quase dois meses de férias por ano????? Pois é... depois dizem que brasileiro é que é preguiçoso...

Continuamos com um case de operações estudando a Cleveland Clinic, respeito conglomerado de saúde dos EUA, famoso por ter talvez o centro de doenças do coração mais prestigiado do mundo, mas que apesar dos "números" positivos, não era reconhecido pela empatia com que tratava seus pacientes. Então, o case foi sobre o papel do serviço no contexto das operações dos negócios que trabalham com gente. A frase mais ilustrativa do processo pela qual a Cleveland Clinic passou é" the patient is not only a disease. He is a soul." E a conclusão é que o foco de emrpesas prestadoras do serviço migra velozmente do foco no produto para o foco na experiência. Para ser sincero, nenhuma grande novidade até aí, mas a abordagem talvez seja interessante a partir do momento em que enxerga o serviço e a experiência como uma cadeia de valor, a exemplo do que faz a indústria com os seus processos.

Fechamos o dia com Finanças e um case de reestruturação da indústria do aço nos EUA, o qual, dada a aridez do tema e o avançado da hora, vou deixar por aqui.

Esqueci de comentar, entre rotation dinner e drinks no living group do vizinho, ainda teve aniversário do Robert, o advogado Australiano, que completou 55 anos hoje. O cara é todo saudável, quase vegetariano, não bebe, etc e tal. Aí o bolo de aniversário do cara foi um bolo de cenoura!!!!!!!!!! Claro que tive que comer pra nãof azer desfeita, mas bolo de cenoura.... peloamordedeus!!!!!

Por fim, mais um dedinho de prosa sobre o livro que comentei anteontem, o True North. Li mais um pouco do livro, e o conteúdo realmente faz pensar. O Bill George, autor do livro que não foi assim tão bem durante a aula, faz reflexões sobre o que nos move como profissionais, e principalmente como seres humanos. Será que essas coisas são incompatíveis? Em outras palavras, e linkando com o que discuti acima no caso da Shell na Nigéria, será que não é possível conciliar a atividade profissional com escolhas profissionais das quais possamos nos orgulhar? Lembrarm de um dos primeiros posts, quando discuti os critérios para definir o que é ético (VISIBILIDADE, GENERALIDADE e LEGADO)? O quanto isto está nas nossas mãos? Até que ponto querer pautar uma carreira por essas coisas é viável, até que ponto é uma coisa bonita na teoria, mas que dificilmente funciona na prática? Quantas vezes vocês já se perguntaram se o que vocês estão fazendo está fazendo a diferença pra alguém? E, mais importante, você sabe, de fato, qual é o seu "True North"?

Amanhã, dia cheio, com case do Brasil. Estou me debruçando nos números do desempenho da economia do Brasil pra não fazer feio, já que os 4 brasileiros com certeza serão os cristos da vez por parte do Vietor. O case não está ruim, fala da evolução da economia desde FHC até o início o segundo mandato do Lula. Mas tem coisas bizarras, como por exemplo, a afirmação de que Getúlio Vargas era General!!!!!

Encerro com uma frase do Raman dita em sala de aula pra aconselhar alguém que tentava se explicar após ter feito um comentário machista e ter sido quase linchado pelas poucas mulheres presentes: "quando você estiver em um buraco, pare de cavar". :-D

5 comentários:

Anônimo disse...

ta quase acabando!!!! :(

Anônimo disse...

o filminho da Itália é muito legal, mas não é muito diferente de um outro país que nós todos conhecemos :-D

Unknown disse...

O comentário sobre a China é muito pertinente. É muito fácil posar de humanista e defensor de direitos humanos quando se contrapõe um país que não tem a menor importância econômica (como uma Cuba, por exemplo). Entretanto, quando se trata de um país que provavelmente vai ter o leme da economia mundial nas mãos, como a China, a conversa é outra. Isso realmente dá o que pensar.
A tempo, acredito firmemente que qualquer ditadura é nociva, Cuba, China, Brasil no período militar, qualquer uma. Os efeitos a longo prazo sempre são insatisfatórios, em um grande número de aspectos.

Anônimo disse...

Oi Allan:

Quanto à aula dois, não concordo com você que a questão é extremamente complexa. Ela é simplesmente feia de analisar (e dura de "se" reconhecer e "se" identificar) mas é o mais puro reflexo da humanidade sublimada nas decisões de homens e mulheres em situações capazes de fazer alguma diferença.

Na dúvida... pró-lucro! Os grandes líderes nas empresas estão nas posições em que se encontram pois foram contratados para executar com perfeição o papel que lhes foi atribuído e não pensar nas consequências diretas ou indiretas de seus atos. Organizações não pensam em pessoas. Pessoas pensam em pessoas. Infelizmente ainda são poucas as organizações cujas missões refletem a preocupação com as pessoas e cuja visão reflete a busca incessante pelo alcance/desempenho da missão. Via de regra as corporações promovem intencionalmente a ilusão (carros, helicópteros, um secto de auxiliares, bônus diversos e outros simulacros de poder e sucesso) de que o alto executivo em questão é "superior" a ralé que ele dirige. Do alto desta arrogância toda, um "mendigo sincero" na rua é pouco mais que um incômodo.

Outra questão que começa a mudar de forma ainda incipiente: vários "líderes" possuem forte componente psicopático: chegam a altos cargos passando por cima das pessoas sem o menor problema. Psicopatia mesmo, sem culpa, com discursos irresistíveis. Consideram que seu comportamento pode não ser muito aceitável socialmente, mas acreditam que estão contribuindo para um "fim maior justificável" ainda que o caminho para alcançá-los esteja repleto de mortos e feridos...

Por fim, existe a transferência da culpa: continuo comprando produtos chineses, mesmo com as atrocidades cometidas naquele país. Continuo utilizando serviços bancários no Brasil, embora as taxas de juros praticadas subjuguem parte da nossa população. Continuo sendo cúmplice dos erros cometidos por organizações (que no fundo são erros de pessoas) pois não admito a minha parcela de responsabilidade. O problema é sempre "os outros". A Shell é o problema, a China é o problema, o Lula é o problema...

Desculpe, mas para mim não é uma questão complexa. É apenas feia e muito díficil para eu engolir. Tenho que admitir que o meu bem estar "conquistado" com o meu "suado dinheirinho" é resultado de decisões com as quais intelectualmente eu não concordo, mas com as quais sou conivente. Neste sentido, é horrível olhar no espelho e encontrar parte da responsabilidade pelo mundo em que vivemos.

Realmente precisamos de líderes que enxerguem além do caixa da empresa (e dos seus bolsos). Boa sorte na reta final.

Allan Costa disse...

Excelente reflexão!!!!!!!!!