Começando pela tarde de sexta onde fui exercitar meus dotes de jogador de basquete com uma galera do curso. Divertidíssimo, a não ser pelo fato de que, como era de se esperar, torci o tornozelo no primeiro lance!!!!!!! Como teimoso e renitente que sou, não parei e continuei jogando e como resultado, ganhei um tornozelo-bola! Na sequencia, pra elaxar do basquete, noite de lobster reception, e eu sinceramente nunca tinha visto tanta lagosta junta na minha vida. Escracho, exagero, absurdo! Me esbaldei, provavelmente comi mais lagosta do que já tinha comido a vida toda. A foto abaixo da uma idéia do que foi o furdúncio:
Após o rega-bofe de primeira, fomos pra reunião de grupo (um saco, porque não dá nem pra tomar muito vinho no jantar senão fica balão e as discussões vão pro vinagre). Mas o fato é que as nossas reuniões diárias das 20h as 22h estão finalmente ficando mais interessantes. Basicamente, porque estamos investindo cada vez menos tempo em discutir os cases e mais tempo em trocar idéias sobre outras coisas, como por exemplo, aspectos culturais dos nossos países. E, como já temos certa intimidade depois de 5 semanas "dividindo o mesmo teto", tá ficando bacana. Por exemplo, na sexta, disse ao Gregg (o engenheiro da Boeing e único americano do grupo) que tu inha curiosidade de perguntar a um americano algumas coisas sobre a cultura daqui mas nunca tinha tido intimidade suficiente pra perguntar essas coisas sem correr o risco de "ofender" a pessoa, e agora, ele seria o alvo das perguntas. Minhas questões eram relacionadas à forma que pode ser vista como "hipócrita", dependendo do ponto de vista, da sociedade americana encarar algumas questões. Por exemplo, 2 anos atrás, quando estávamos de moto no meio da Rota 66, paramos numa cidadezinha no meio de lugar nenhume fomos ao Wal-Mart pra comprar cerveja. Descobrimos que a lei não permitia vender cerveja no Wal-Mart. Mas no mesmo Wal-Mart, tinha uma estante enorme repleta de arma e munição de tudo quanto é calibre! Ou seja, comprar bebida alcóolica não pode, mas comprar arma pode! Mais ou menos a mesma coisa com o negócio de bebr na rua. Se pegar uma garrafa de cerveja e sair bebendo na rua não pode. Mas se colocar dentro de um saco de papel por mais que TODO MUNDO saiba que dentro do saco de papel tem uma cerveja, aí pode! É no mínimo estranho... E abordei essas questões com o Gregg. Ele deu risada e respondeu muito sinceramente que ele nunca tinha pensando nisso... e que provavelmente, ninguém pensa. Tipo, é algo que é assim desde que o mundo é mundo e ninguém questiona. A propósito, essas leis são todas estaduais! Ou seja, de estado pra estado pode variar a coisa de vender bebida em determinados lugares ou de vender armas no supermercado. No Texas, abre-se conta em banco e como presente de boas vindas ganha-se uma arma! E quanto à cerveja no saco (sem trocadilhos, por favor...), Gregg disse que não tem a ver com lei, mas com o princípio de que um policial só pode abordar qualquer pessoa na rua se tiver um motivo para isso. Ou seja, o cidadão tem que dar uma causa para que o policial o faça. Andar bebendo na rua, pode constituir uma causa! Portanto, a saída pra não criar a tal causa é botar a bebida dentro do saco de papel!!!!!
E já que falamos em trocadilhos, demos muita risada com a coisa do idioma. O pessoa, quis saber se o Portugues do Brasil era igual ao de Portugal. Expliquei que tem algumas diferenças, apelei pros casos "divertidos" de expressões trocadas (paletó/saco, fila/bicha e por aí afora), mas o melhor mesmo, foi explicar que o nome de uma colega de curso (Maria Pica) tem um significado BASTANTE diferente no Brasil... :-)
Bem, agora vamos às aulas de sábado. AS aulas do Paul Healy definitivamente são TREMENDAMENTE tediosas.... Novamente, questões éticas (e quero deixar claro que não tenho nada contra discutir ética, ao contrário, o pessoal próximo sabe que na época do mestrado era um dos temas que mais me despertavam interesse). Mas é que fica num blábláblá meio sem rumo, e aí fica difícil de continuar focado (porque não consigo ver o negócio chegando a lugar nenhum). No sábado, o caso do Healy foi sobre o envenenamento de pessoas pelo Tylenol nos EUA em 1982. Me lembro de ter ouvido a respeito na época, ainda era criança. Mas por alguma razão, alguns frascos de Tylenol saíram para o mercado com comprimidos de veneno (cianeto em Chicago, stricnina em Los Angeles) e a discussão era se o fabricante tinha feito a coisa certa, porque demorou pra suspender a venda, e só suspendeu na região onde o problema ocorreu primeiro (Chicago) e acabou aparecendo outro caso em Los Angeles, e o fabricante teve que recolher tudo e indenizar todo mundo, perdeu milhões, etc e tal. Minha visão pode ser meio simplista, mas a discussão toda em torno do certo ou errado nesse caso é datada! Se fosse hoje, me parece meio óbvio que não restaria alternativa a não ser recolher tudo, de tudo que é lugar, imediatamente e arcar com o prejuízo. Esta questão de responsabilidade das empresas avançou muito nos últimos 30 anos, e a sociedade como um todo não toleraria hesitação numa situação como essa. Mas enfim... foi bom pra treinar o vocabulário e aprender a falar Cianeto e Stricnina em inglês! :-)
A segunda aula do sábado foi do piadista nato, Raman (Operações). A aula dele é realmente a mais divertida, porque ele tem um senso de humor extremamente afiado. Trabalhamos o caso do Commerce Bank, um banco que hoje foi incorporado pelo TD Bank (por sinal, o principal patrocinador do Boston Celtics, falarei mais disso adiante). Ele foi fundado em 1973 e seu fundador, desde o princípio, estava determinado a "fazer diferente". Ele criou um banco fundamentalmente diferente dos concorrentes, entregando altíssimo nível de serviço para atrair os clientes. Por exemplo, sua propaganda era baseado num bordão "no stupid lines, no stupid hours", pra deixar claro que era um banco onde o cliente não encontraria fila e que era um banco que abria 7 dias por semana (inclusive aos domingos onde, por sinal, eram promovidas verdadeiras quermesses nas agências, com direito a mágico, pipoca, banda de música e etc) e em horários alongados, ficando portanto, as agências, disponíveis para os clientes por muito mais tempo. Nossa missão foi entender como o modelo de negócios do banco teve que ser alterado para assegurar que com uma proposta como essas ele pudesse ser lucrativo. E efetivamente, o modelo de negócio foi bastante modificado, com indicadores muito diferentes da média dos bancos. Reduzindo ao máximo, o banco conseguiu remunerar o recurso de seus clientes a taxas bem menores do que a concorrência para conseguir compensar o custo adicional do serviço diferenciado. E o melhor: os clientes não se importavam!!!!! O serviço valia a pena! E este "espírito de servir e celebrar" era altamente difundido também entre os colaboradores. Por exemplo, anualmente o banco promovia no Radio City Music Hall em Nova Iorque, um evento "Oscar style" pra premiar funcionários, distribuir "comendas" e assim por diante.
O dono do banco construiu uma empresa sólida e a vendeu ao TDBank, e como parte do trato ficou impedido de operar no setor bancário nos EUA. O que ele fez? Fundou um banco na Inglaterra (Metro Bank) que tem exatamente a mesma proposta. Entretanto, o curioso foi que na opinião dos váris britânicos da turma, isso não vai funcionar lá. Segundo eles, por questões culturais (eita, a tal da Cultura....), porque o Britânico seria menos suscetível a este modelo meio "pão e circo" de bandinha de música na agência e etc e tal. O tempo vai dizer quem tinha razão.
Terminamos a aula analisando o mapa de atributos do negócio, que na verdade, é exatamente o que a metodologia do Oceano Azul chama de curva de valor - quais os atributos de um banco que são ou não valorizados pelo Commerce Bank e pela concorrência. E Raman fechou repetindo várias vezes algo que dá margem a reflexão: a coisa mais difícil quando se está construindo a estratégia de qualquer negócio, é escolher as coisas em que você NÃO QUER ser bom. Parece estranho, porque teoricamente, todo mundo quer ser bom em tudo. E mais estranho ainda seria dizer para um funcionário do Wal-Mart (que pelo seu mapa de atributos decidiu que não quer ser bom em serviço) que ele não precisa se esforçar para atender bem ao cliente. Mas é óbvio que não se trata disso. Ao escolher aquilo em que a empresa não vai ser boa, não quer dizer também que ela terá que ser ruim. Estamos apenas falando de "trade-offs", onde a prioridade (e a alocação do recurso correspondente) depende diretamente dessas escolhas.
Fim das aulas, sossego de final de semana, cerveja de sábado a noite, domingo de excursão ao outlet, cartão de crédito saindo fumaça e pra fechar o findi, fiz uma das coisas que sempre quis quando vinha aos EUA mas nunca tinha conseguido: fui assistir a um jogo da NBA, Boston Celtics e Toronto Raptors, no TD Garden (por isso se chama TD Garden, porque o time é patrocinado pelo TD Bank). Ainda é um jogo de pré-temporada, ou seja, os times estão se preparando para o início do campeonato no final do mês. Mas valeu a pena, porque a atmosfera é praticamente a mesma (imagino eu, já que não consigo imaginar muito mais produção ou barulho da torcida do que vi hoje) e como é pré-temporada, os ingressos são infinitamente mais baratos.Por exemplo, sentei na primeira fila, ao lado da quadra - melhor que isso só as cadeiras que ficam dentro da quadra que é onde senta o Jack Nicholson, por exemplo, notório fã do Lakers - e paguei USD 120 no ingresso. Um ticket pro jogo de abertura do campeonato no final do mês (Boston e Miami Heat) no mesmo assento está sendo vendido por USD 2.150! Ou seja, a great bargain!
Tenho que dar o braço a torcer: os americanos são muito bons nesse negócio de promover espetáculo! O jogo é uma festa! O ginásio por si só é uma atração! Placar eletrônico, os telões gigantescos mostrando a galera a cada break, e a galera dançando e fazendo palhaçada pra aparecer nos telões, as musiquinhas que a gente vê na TV rolam o tempo todo (tipo a que fica tocando quando o time da casa tá atacando e que vai acelerando pra orientar os jogadores de quando segundos faltam pra estourar a posse de bola), o telão "comanda" a torcida (DE-FENSE - TA-TA DE-FENSE - TA-TA), tem cheerleaders, macote do time fazendo pirueta e jogando camiseta pra galera com uma arma de pressão que consegue acertar os lugares mais altos da arena e por aí vai. Diversão pura! O jogo foi ótimo, valeu pra ver de perto um dos últimos caras "do tempo em que joguei basquete" que ainda tá na ativa e que é meio uma lenda, o Shaquille O'Neal, que veio pro Celtics nessa temporada. O bacana é que descobri que tenho mais coisas em comum com o Shaq do que a idade: além de termos nascido no mesmo ano, ele TAMBÉM está velho e gordo!!!! :-D O cara continua uma figura, mas definitivamente não é mais o mesmo, tá lento, corre pouco, etc e tal. Mas mesmo assim, bola pra ele dentro do garrafão, é partir pro abraço. Não dá pra segurar o gigante.
Também foi legal pra ver o Leandrinho, um dos brasileiros da NBA que este ano se transferiu para o Toronto Raptors. Foi bacana ver o cara jogando MUITO! O Toronto estava atrás no placar e no início do terceiro quarto o Leandro entrou jogando e arrebentou! Ele tinha jogado um pouco no segundo quarto (ele é novato no time e provavelmente por isso, é banco - tem muito nego muito mais tosco que ele no time titular) e jogou mesmo no terceiro. E só com este tempo de jogo, virou cestinha do time com 18 pontos e o Toronto foi pro intervalo do terceiro pro quarto perdendo por dois pontos apenas. Aí voltaram os titulares pro último quarto e lá foi o Leandro por banco. O time afundou, o Celtics começou a abrir e volta o Leandro! Aí, foi curioso observar... Fiquei prestando atenção, e nos mais ou menos 6 minutos de último quarto que o Leandro jogou, ele pegou na bola UMA vez!!!!!! Porque??? Simples! Quando ele tava arrebentando com o jogo, estava entre os reservas e todo mundo soltava a bola pra ele. Agora, ainda que ele estivesse num dia inspiradíssimo, falou mais alto o ego dos titulares e principalmente do principal jogador do time, um tal de Jack, que tava, com o perdão da expressão, cagado de urubu e mesmo assim tentava decidir tudo sozinho. Deve ser punk... O cara brasileiro, deve ter preconceito e tal, aí ele chega num time novo, arrebenta... deve rolar inveja e boicote pra kct. Mas o Leandro realmente matou a pau, quase comecei a torcer pro Toronto! :-D Saí do jogo feliz vestindo minha recém-comprada camisa do Larry Bird (uma lenda do Boston Celtics da época do Magic Johnson - estes dois, de quando eu jogava basquete de verdade) e só meio puto porque dei uma pisada na bola homérica! Achei que tinha colocado a bateria da máquina fotográfica pra carregar, mas não tinha... ou seja, no primeiro quarto a bateria foi pro vinagre e tirei poucas fotos. Mas algumas deu pra salvar, e aí estão elas:
Visão panorâmica do Ginásio.
O placar que comanda a galera e os telões que ficam mostrando as palhaçadas do povo.
Shaq (no centro da foto ao lado do juíz) após tentar ganhar uma disputa de bola na saída do jogo.
Shaq com a número 36 correndo pro rebote num lance livre
Leandro Barbosa (de cabeça baixa e camisa laranja), "o" cara!
Técnico do Toronto dando instruções.
Pra fechar, os "pequenos poderes" que tanto me encantam analisar... Os "pequenos poderes" são aqueles que estão ao alcance de indivíduos que, ao se investirem deste poder, efetivamente se acham donos do mundo dentro daquele espaço que lhes é concedido. Por exemplo: guarda ou orientador de trânsito. Quando estava com o Maurício em NY comentei com ele de um figura na esquina da 43rd street e da 5th avenida. O cara é o "dono" da uma das esquinas mais importantes do mundo! E como tal, usa esse poder até onde é possível: olha de cara feia, ameaça, manda o carro parar no meio do caminho ou avançar enquanto dá esporro, e assim vai. Esse é só um exemplo de váááááários outros pequenos poderes com os quais eu me irritava, mas agora aprendi a analisá-los pela ótica do "cientista social" (que a propósito não sou e nunca terei a pretensão de ser) e me divirto com eles. Importante dizer que não to querendo generalziar dizendo que todos os que exercem as funções que to descrevendo abusam dos pequenos poderes. Uns são inteligentes e compreendem o contexto. outros não! :-) Outros exemplos: fiscal de raio X no aeroporto, periquita do Estar, e... guardinha do TD Garden!!!!! Explico: exatamente na minha frente, uma mocinha com uma jaqueta de mega-fã do Celtics, começou a mexer com um dos caras do banco do Raptors, não entendi direito porque, mas ela disse pra ele algo como "senta aí e sai da frente porque você já tá aposentado". O tal guardinha que fica o jogo todo de costas pra quadra e olhando pra galera, veio na direção dela e mandou ela para de falar com uma cara de brabo que assustava criancinha! Não satisfeito, ele chamou um velhão gordão que veio e deu outro esporro nela. Não satisfeito, ele ainda chamou um cara que devia ser tipo "level 2" de segurança porque tava de terno com aquelas paradinhas penduradas no ouvido (ah, os pequenos poderes também têm seus símbolos de status... hehehe) e falou da menina, e apontou a menina e tal e coisa. E daí por diante (devíamos estar no início do terceiro quarto) o tal guardinha passou o jogo INTEIRO olhando DIRETA E ININTERRUPTAMENTE pra cara da menina, tipo encarando a pobre coitada o tempo todo. Eu ria sozinho das caras de mal que ele fazia, muito, mas muito engraçado. Agora, o e melhor está por vir. Olha a carinha da criança aí embaixo: alguém consegue sentir medo e respeitar uma franguinha dessas, numa posição dessas???? Só rindo...... :-DDDDD
2 comentários:
hahahahah... ótimo...
o esquema dos pequenos poderes...
muito bom seu texto...
inteligente e divertido... show!!!
Obrigado, "anonimo"!!!!!
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