quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dia 38 - Quinta - 14/10 - Technology Day

Excelente dia de trabalho! Hoje rolaram três aulas dentro do Technology Day. A responsabilidade por "coordenar" o dia foi de David Yoffie, excelente professor, um caminhão de livros publicados.

Como o Yoffie foi o primeiro (e o melhor), vamos de trás pra frente. Terminamos o dia com o case do Google e da sua estratégia, como antecipei ontem, de "dominação do mundo". A aula foi conduzida por David Eisenmann, um cara com uma história acadêmica interessante. Estudou a vida inteira em Harvard, mas entre o MBA e o DBA, passou 11 anos na McKinsey antes de voltar pra academia e não sair mais. Fiz umas contas e cheguei a conclusão de que ele começou o DBA dele aqui com alguma coisa em torno de 40 anos. Ou seja, dá pra concluir que ainda não to velho o suficiente pra não mais cogitar um doutorado em Harvard. Interessante...

Mas vamos ao que interessa. A leitura do case e as discussões em sala trouxeram luz a uma série de questões que passam batidas. Por exemplo, e falando pela minha própria experiência, sempre tive grande admiração pelo Google. Afinal, nunca paguei um real por nada e uso coisa a dar com o pé que vem do Google: search engine, Gmail, Google Agenda (pra intermediar a sincronização do exchange corporativo com o blackberry), Blogger, Google Docs em algumas situações, Google Maps para achar endereços, e por aí vai. Naturalmente, é fácil desenvolver simpatia por uma empresa assim. Me dá um monte de coisa e não pede nada em troca. Mas, como era de se esperar, não é bem assim...

O Google tem uma missão fantástica, claramente delimitada desde que Sergey Brin e Larry Page fundaram a companhia: "Organizar a informação do mundo e torná-la universalmente acessível e útil". E tudo começouo por aí mesmo, com o algortimo de busca, que é a alma do Google e que permitiu à empresa suplantar players que estavam há muito mais tempo no mercado, como Yahoo, por exemplo. Mas aí, a gente começa a se perguntar: mas então, de onde vem a receita do Google, se é tudo de graça. Os mais familiarizados deduzem imediatamente que vêm de publicidade. E é aí que está o segredo do negócio do Google. Não se trata apenas de vender publicidade. Se trata de perseguir uma estratégia que permita ao Google ser o maior intermediário de anúncios e publicidade do mundo, em todos meios disponíveis. Num documento que deveria ser interno mas vazou, aparecia declarado, por exemplo, que "o Google não faz dinheiro organizando a informação do mundo - o Google faz dinheiro quando alguém clica nos seus anúncios". Curioso, porque essa estratégia não parece necessariamente estar conectada com o que o Google apresenta como sua missão. Mas é por aí que a banda toca.

Por isso, o Google está estendendo seus braços para todos os lados. Os estudiosos de plantão definem que a "guerra" que está em curso é pelo domínio do que eles chamam de "as 3 telas". São elas o PC (em franca decadência), os dispositivos móveis (não só os celulares, mas tablets e outras coisas do gênero) e a televisão. E aí, em cada território, há uma batalha a ser travada. Na web, o Google efetivamente já domina o acesso à audiência (por isso tantos serviços, facebook, gmail, etc, etc, etc - vc já percebeu que os anúncios que aparecem na área de sponsored links quando você acessa à sua caixa postal são contextuais? Em outras palavras, o Google coloca anúncios ali em função do conteúdo do seu e-mail, que supostamente, deveria ser privado?????). Mas a tela do PC em si, hoje é dominada pela Microsoft e pelo Windows. Entenderam porque o Google Chrome OS? Além disso, grande parte da tela do PC também é dominada pelo facebook, definitivamente o vencedor das mídias sociais (falarei mais disso quando comentar a aula do Yoffie). É um problemão porque, primeiro, o os mecanismos de indexação do Google não conseguem indexar o que está dentro do facebook. Segundo, porque o uso do e-mail está DECAINDO! Porque? Porque as novas gerações estão utilizando como principal meio de comunicação as mídias sociais (terreno onde o facebook é rei, como já comentei). E, o mais incrível, isso está atraindo uma base de usuários impensável: pessoas na faixa dos 60-70 anos, que demograficamente, já tem a mesma importância que teenagers!!!!!! Porque? Simples: é a única forma dos idosos se comunicarem com seus filhos e, principalmente, netos.

No celular, o Google está se posicionando bem. Entenderam porque o Android? Pois é, não é porque o Google adora os usuários que ele resolveu criar um SO para celulares para concorrer com o iPhone (e que vai ultrapassar o próprio iPhone em breve, segundo projeções). É porque o Google precisa controlar este canal, esta tela, para continuar expandindo sua capacidade de prover anunciantes com soluções efetivas.

E, finalmente, está para sair nos EUA o Google TV. Concorrente do Apple TV, visa assegurar ao Google controle também nesta tela, o que "fecha o ciclo" da estratégia do google de dominar o mundo. Entenderam também porque o Google comprou o youtube (o serviço da uma que mais usa largura de banda e um dos dois que mais cresce ao lado do Facebook)? Sem dúvida, isso coloca a empresa como um dos players de maior potencial quando falamos, por exemplo, de realidade aumentada ou de serviços baseados em localização.

Mas essa foi a aula menos interessante! :-D

Vamos em frente. A segunda aula foi sobre ideas cloud. O conceito é derivado do "cloud computing" com o qual a galera de TI tá se acostumando há algum tempo e o qual provavelmente muita gente já usa até mesmo sem saber. Por exemplo, tem um serviço chamado dropbox que consiste em um espaço que é meu na web e que mantém todos os meus "devices" sincronizados. Pago 100 pratas por ano, os caras me liberam 50 GB que ficam em algum lugar, sei lá eu onde, e além disso, tenho garantia de que o negócio tá beackapeado e a funcionalidade de ter meus arquivos disponíveis esteja eu onde estiver. Ele mantém sincronizados meu Mac de casa, os dois notebooks, o ipad, o iphone e em breve o blackberry (está pra sair o aplicativo pra BB). é simplesmente fantástico. Esse é o conceito de cloud computing. Os recursos computacionais está em algum lugar, ligados à nuvem, e com qualquer conexão à Internet, eu posso utilizá-los.

Agora imaginem o conceito de nuvem aplicado à produção intelectual! Lembram daquela história de que você não precisa ter a vaca se você gosta de leite? É a mesma coisa: você não precisa ter os gênios criativos se você precisa de criatividade. Por exemplo, o minuto mais caro da publicidade americana é o intervalo do Super Bowl, que é a final do futebol americano deles. Rola uma espécie de "disputa" entre os anunciantes para ver quem faz o comercial de mais sucesso todo ano. Por 10 anos seguindos, a (empresa brasileira, hehehehe) Budweiser levou o prêmio. Por exemplo, pra quem tiver interesse, alguns dos comerciais da Bud:

http://www.youtube.com/watch?v=EUtwNtE1NBA&feature=related (esse é hilário!!!!)
http://www.youtube.com/watch?v=GdBXkJjTV7E
http://www.youtube.com/watch?v=kH50-giCeDM
http://www.youtube.com/watch?v=0IMofdVTALE

Pois bem, decidida a virar o jogo, a Frito-Lay (Pepsico) decidiu usar "the ideas cloud". Ela lançou um concurso onde qualquer pessoa poderia apresentar uma idéia de comercial. eles selecionariam as melhores idéias, e o comercial seria produzido e colocado no youtube. O povo votaria e os melhores iriam para o Super Bowl. Depois de 10 anos ininterruptos de Bud na cabeça, o Doritos venceu a "disputa do melhor comercial" quando eles começaram a fazer isso. Abaixo, alguns exemplos dos comerciais produzidos a partir da nuvem em 2009:

http://www.youtube.com/watch?v=CPTAOgPIUds&feature=channel
http://www.youtube.com/watch?v=4rsEnwKrsvc
http://www.youtube.com/watch?v=D4YNFO70Qhk&feature=channel
http://www.youtube.com/watch?v=UpRbbtHp5Qg&feature=channel

Outro exemplo prático desta idéia é a Threadless (http://www.threadless.com/). Consiste em uma empresa que não faz nada! Explico: é um site de venda de camisetas online. Mas eles não produzem uma única camiseta. A produção é toda terceiriza. Bom, então eles devem ser os criadores das camisetas, como normalmente acontece, certo? Errado! Quem cria as camisetas são os usuários!!!!! Trocando em miúdos, são hoje cerca de 500.000 pessoas na comunidade deles criando designs de camistas originais. Esses designs são submetidos online para a avaliação do público e os mais bacanas vão pra produção. O criador do design ganha um percentual de cada camiseta vendida é pronto, está criado o modelo de negócios!

A base do raciocínio é o que os professores apresentaram como "a Lei de Bill" (Bill Joy, co-fundador da Sun). Segundo ele, "não importa quem você é, a maioria das pessoas mais espertas trabalha para outras pessoas". Em outras palavras, a o princípio do "ideias cloud" é que você não precisa ser dono dos recursos intelectuais. Você pode utilizá-los onde eles estiverem.

Conectada a esta conversa toda, está o conceito de "Outside innovation". Existe toda uma teoria em desenvolvimento sobre quando uma empresa deve partir para buscar inovação fora da empresa. E, até onde o modelo de análise está desenvolvido, existem duas principais maneiras de partir para este caminho. Um, é através de comunidades de colaboração. Para entender, pense em software livre, pense no desenvolvimento do Android (Sistema Operacional de Celular) e pense na própria Threadless.com. As pessoas colaboram movidas por vários motivadores, que vou comentar a seguir. E so segundo caminho, é através de mercados competitivos. Na mesma analogia, pense no desenvolvimento de softwares para iphone ou em jogos de video-game. Neste modelo, os envolvidos no processo de inovação não colaboram, mas competem entre si para gerar inovação. A partir de uma plataforma básica dada pelo "dono" da comunidade (Playstation 3 da Sony, por exemplo), os interessados em entrar para a comunidade de desenvolvedores de jogo andam cada um por si, tentando criar a melhor inovação possível para aproveitar aquela plataforma.

A escolha de cada um dos modelos depende de 3 fatores: o tipo da inovação, as motivações envolvidas, e do modelo de negócios do que eles chama de plataforma (o Playstation 3, no exemplo que dei acima). Os slides abaixo, de uma apresentação que fiz ontem para o living group (como o assunto me interessa, fiquei responsável pelo deep dive do material) ajudam a entender os fatores:



O tema é bastante interessante, para quem tiver mais interesse, um bom ponto de partida é um artigo da MIT-Sloan Management Review, chamado "How to Manage Outside Inoovation", da edição "Summer 2009".

Por fim, falta a aula do Yoffie, mas essa vem na sequencia que tá na hora de ir buscar janta senão fico sem comida. Volto ainda hoje pra terminar.

4 comentários:

Cesar Colini disse...

Caracas no minimo eletrizante o seu post imagino a aula do camarada! É o mundo cada vez mais virtual e descomplicado.

Anônimo disse...

show!!!!

http://www.youtube.com/watch?v=TSWyWuSncD4

Unknown disse...

Allan, essa aula foi ótima... Junto com as idéias sobre computação móvel, eu diria que pode ter valido o curso todo, se bem aproveitada...

Helvio Nunes disse...

"The ideas cloud", "Outside Innovation", colaboração, buscar idéias fora da empresa, isso foi muito interessante! Apesar de já conhecer estes conceitos amplamente utilizados em T.I, mesmo assim foi como "um Sonrisal jogado na água parada". Seu post com as figuras sobre inovação, motivação e plataforma, servirão de base para um brainstorm...
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